quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Família

"Não fale muito, você está ofegante."
Jorge mal conseguia respirar, mas precisava dizer para o que tinha vindo antes que o pior acontecesse, mas Dona Marta achava um absurdo mandar um pequeno tão franzino correr assim de um lado para o outro sem dar descanso ou oferecer um copo d'água, como fazia a Vizinha.
Só que Jorge nunca ligou, já que a vizinha dizia que ele nascera cercado de merda, num chiqueiro, literalmente. Achava era bom correr de um lado para o outro, só assim tinha oportunidade de ver bem de pertinho as mais belas casas, além de conhecer as mais diversas personalidades, algumas muito legais, como Dona Marta, a quem ele devia seus estudos e presentes de aniversário e natal. E por isso tratava de fazer direitinho seu trabalho.
"Dona Marta, Seu Elmir não passa de hoje."
Ela não entendeu foi nada. Tinha estado com ele na tarde passada e tudo corria bem. Como Elmir poderia ter adoecido de uma hora para outra? O que seria dela sem seu Emlir?
Que não era tão seu assim. O caso é que ela havia namorado Elmir no tempo da escola e o tal não era muito de compromisso, namorava Dona Marta (que não era Dona na época) e todas as outras meninas que o quisessem, inclusive a Vizinha. Essa, que sempre ouviu de todos que morreria sozinha, já que era muito chata e sem nenhuma prenda, tratou logo de embuchar. E Elmir, como nos costumes, teve que casar. Mas no fundo estava radiante com a ideia de jogar uma bola com um menino que parecesse com ele. Só que o filho sumiu, dizem que morreu no parto. E Elmir continuou não sendo muito de compromisso. Mas com o tempo foi ficando velho e sem disposição para dispistar a esposa de tantas amates e resolveu ficar apenas com a que mais lhe convinha, Dona Marta.
"Mas o que houve menino? O que ele tem?"
"Ele não tem nada Dona, quem tem é a mulher. Parece que tá tomada pelo Cão. De hoje ele não passa."
A Vizinha tinha descoberto tudo. Ela seguira os dois no último encontro e até pensou em pegá-los no flagra. Mas acho que assim seria mais dramático.
"Vamos menino! Não podemos deixar que nada aconteça."
Eles foram correndo para a casa da Vizinha e lá estava ela, ameaçando Elmir com objetos que voavam em direção a cabeça dele e por enquanto ele tinha conseguido desviar.
"Garoto fedido de uma figa! Você tem mesmo que avisar tudo o que se passa aqui nessa casa para Dona Marta?"
"Aviso porque gosto de Dona Marta e de Seu Elmir, a senhora nunca me deu nada, só me manda trabalhar."
"Eu te dei abrigo quando ninguém te quis, te tratei como se fosse o filho que eu não tive."
"Que filho que nada Vizinha! Você trata o menino como escravo."
"Ah! Sua biscate! Vem até a minha casa depois de trepar com o meu marido e ainda se acha no direito de alguma coisa?"
O alvo mudou. De repente os objetos começaram a ser lançados na direção de Dona Marta que não tinha a mesma habilidade para de desviar que Elmir então foi acertada por um cinzeiro que era, de certa forma, pesado e fez Dona Marta desmaiar.
Jorge ficou em choque, viu Dona Marta ali no chão e sentiu que era meio culpado. Mesmo não sendo. Mas o problema maior era que Dona Marta era como uma mãe para ele, ela sim o tratava como filho. Então, a raiva foi crescendo, ele pegou o vaso sobre a mesa e tacou bem na cabeça da Vizinha que caiu no chão com a cabeça sangrando. Jorge foi olhar e ela dizia alguma coisa que de longe não dava para entender, então ele se aproximou e descobrira que tinha acabado de matar sua mãe.
A Vizinha nunca sonhou ter um filho e sabia mesmo que não daria para mãe. Então depois que se casou inventou uma viagem e teve o filho longe. Mas um dia, a mãe que tinha arrajando para seu filho morreu, na verdade, muito antes do conveniente, e deixou o menino para ela cuidar. Mas como a Vizinha já havia contado a velha história da morte no parto jamais poderia dizer a verdade sobre Jorge ser o filho que fez Elmir casar com ela.
"Ai minha cabeça! O que aconteceu menino? Elmir, você está bem?"
Ele estava paralisado não sabia como agir, não sabia o que fazer. Só sabia que Jorge era seu filho e isso explicava porque ele gostava tanto do garoto.
"Dona Marta, me ajuda aqui. Preciso levar a Vizinha e jogar no rio."
Jorge estava decidido a esquecer o que tinha acontecido. Elmir logo de dispois a ajudar, afinal ele era seu filho.
Corpo jogado no rio, casa limpa.
Eles resolveram viver assim, juntos. Elmir, com o filho que queria ter, Jorge com a mãe que sempre sonhou e Dona Marta com o marido que sempre desejou.

4 comentários:

  1. Parabéns minha "roli" a cada texto você fica melhor.Continue exercitanto esse dom que você tem.

    Seu admirador mais aPAIxonado.

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  2. Oi Lulú,

    Eu li os 3 últimos de uma vez só, e vou comentar tudo aqui, por preguiça é claro.
    O do professor de matemática está muito legal, o da Maria eu adorei - principalmente o final que não existe - foi muito criativo, e este último, como já foi dito, mostra uma evolução sensível no seu modo de escrever e um encorpamento do seu estilo.

    Beijos

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  3. bem Nelson Rodrigues esse né?! hahahahahha

    bjuu

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