quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Dízima periódica

Seus braços doíam, suas pernas não aguentavam mais o peso de um dia de trabalho e sua cabeça não suportava as novas informações que o mundo lhe mostrava todos os dias.
Ele estava pirando!
Mas como podia ser isso? Ele era um professor de matemática respeitado. Um mestre na arte dos números. O melhor na área. Como ia explicar o fato de que estava pirando? Que simplesmente não queria mais saber de números, alunos, colégios...?
Tudo a sua volta lhe irritava. Até a sua antiga máquina de tirar retratos que sempre foi sua companheira de tantos momentos de dor e frustração estava, naquele momento, lhe tirando do sério.
Não havia saída. Ele já não pensava. Não tinha escapatória. Ele babava apenas com a idéia de beber uma caipirinha. Não fazia mais sentido. Ele teria que entregar sua ficha de dez anos sem uma gota de álcool e se afundar de uma vez.
Era realmente uma pena deixar os filhos, a mulher (bela mulher!). Eles tinham prometido que partiriam se o pegassem bebendo mais uma vez. Mas ele já tinha se decidido. Não queria ser tachado como pirado. Definitivamente bêbado combinava mais com ele.
Foi em uma terça-feira, por volta das quatro. Ele saiu da escola, antes de dar os últimos tempos e estava seco. Seus olhos gritavam por cachaça. Ele nem se sentou e pediu "uma branquinha". O baixinho atrás do balcão se assustou, já que conhecia o camarada não era do dia. Mas dinheiro é dinheiro! Ele bebeu quase uma garrafa e nunca mais se soube do tal.